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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Morte #3

Ontem fui ao cemitério, ir lá não costuma mexer comigo e não costumo sentir necessidade de escrever. Mas desta vez foi diferente, quando saí de lá jurei a mim mesma nunca mais lá voltar no dia de todos os santos.
Não sei o que me deu ontem, sinceramente não sei. Ontem quase não fui capaz de me aproximar das campas, só me apetecia correr dali para fora. Só queria que tudo fosse um pesadelo. É um estupidez, isto já me tinha passado, eu já tinha aceitado. Será a eminência de fazer um ano? Só ontem quando olhei para a data tive consciência disso. Parece impossível, mas já passou quase um ano que o meu Cigano morreu. É doloroso dizer morreu, ainda me custa acreditar. Parece tudo tão irreal.
Ontem, quando cheguei ao pé da campa, estava um casal a ler o que a minha prima escreveu. Quando eu me aproximei e disse boa tarde, olharam para mim para ver se eu me iria aproximar da campa. Cumpri o "ritual", como sempre, aproximei-me limpei a fotografia e dei-lhe um beijo. Tive consciência de que as pessoas me estavam a observar e me ouviram murmurar. Não me importei. A senhora dirigiu-se a mim e disse-me: Desculpe perguntar, mas reparámos que ali à frente existe uma campa de um senhor com o mesmo apelido, é familia? Senti que estava a sorrir sem perceber bem porquê, e respondi-lhe que sim. A senhora olhou para mim baixou a cabeça, mais uma vez e pediu desculpa e deu-me os sentimentos. Agradeci, controlando a vontade de lhe gritar que isso não trazia os meus tios de volta. Depois afastaram-se, fiquei sozinha a olhar para a fotografia do meu tio, imóvel. Até que o meu cérebro começou a gritar para eu sair dali, para eu ir embora. Forcei-me a ir à campa do meu Bigodes. Cumpri o mesmo "ritual".
Não aguentei, as lágrimas ameaçavam cair. Tive que ir embora.

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