2018, o ano que me fez ter vontade de voltar a escrever. O ano
do está tudo bem e a seguir está tudo uma merda, o ano das decisões difíceis,
das perdas complicadas. Este tem sido o ano em que tantas vezes ri como chorei
até não ter mais forças, o ano em que perdi tantas pessoas quantas entraram na
minha vida. Dois meses antes do final do ano talvez tenha chegado a altura de fazer
uma retrospectiva.
Estive prestes a desistir de tudo no início do ano, a certa
altura sinto que me conformei, aceitei a ideia de que nunca ia concretizar o
sonho de trabalhar na área. A relação em que estava era complicada, discussões atrás
de discussões, gritos, lágrimas, falta de apoio, falta de maturidade, noites
sem dormir. A situação complicou-se de tal forma que voltei a ter ataques de
pânico, era urgente tomar uma decisão.
Tomei a primeira grande decisão em março, decidi que ia
desistir da relação e ia apostar em mim, o plano começou a formar-se na minha
cabeça quando a decisão de acabar foi tomada. O mestrado ia ser uma realidade,
um ano para preparar tudo, arranjar dinheiro e preparar a candidatura.
Enquanto na minha cabeça o meu plano para os próximos anos
estava claro, tudo o resto à minha volta começava, aos poucos, a desmoronar-se.
Junho, o mês que me trouxe um misto de sentimentos, recebemos a notícia de que
nos devíamos preparar para a morte da minha prima no dia 4 e nesse mesmo dia
tinha recebido uma chamada que marcava a entrevista para quarta-feira, no meio
do túnel que se desmoronava à minha volta, havia uma luz, uma réstia de
felicidade. Mentalizei-me e enfiei na cabeça que não me queria despedir dela
numa cama de hospital, mais uma noite em branco, conversas sozinha no quarto.
No dia seguinte enquanto ia para o trabalho decidi que precisava
de me despedir dela, mas no momento em que deveria ter virado em direção ao
hospital, continuei em direção ao trabalho. Estava a começar a trabalhar quando
o telefone tocou, o nome da minha mãe no visor disse-me que tinha acontecido
ainda antes de atender a chamada. Tive quem me agarrasse no momento em que tudo
caiu, em que eu me senti afundar num buraco sem fundo. Mas não podia, eu não
podia ir abaixo, era preciso segurar os outros, desmarcar a entrevista, era
preciso agarrar o avô, eu não tinha tempo para ir abaixo.
Velório, noite à porta da igreja, mais uma. Funeral, dor, lágrimas.
Lembro-me perfeitamente do que pensei no momento em que vi o caixão passar as
cortinas, acabou, agora acabou, ficas junto de quem também te quer bem, sei que
a avó te veio buscar, não precisas de ter medo, não sofres mais. Quando finalmente percebi que também eu já
podia descansar, deitei-me no sofá e adormeci. Acordei com o toque do telefone,
era novamente da entrevista, atendi, estavam dispostos a dar uma oportunidade
mesmo eu tendo desmarcado a entrevista, a pequena luz que havia ao fundo do
túnel acendeu-se com uma intensidade enorme.
Terça-feira saí de casa de manhã, com uma força de quem não
passou por nada de mal, com a vontade de conquistar o mundo. Passada a
entrevista ouvi aquelas palavras como se estivesse numa bolha de sabão: se
estiver interessada o lugar é seu. Tive vontade de me levantar da cadeira e abraçar
a rapariga, chorei quando cheguei ao carro ao ouvir a voz de felicidade da minha avó quando
lhe contei, estava feito, estávamos a concretizar o nosso sonho e sabia tão bem.
Julho, estava tudo a correr bem, o sonho a ser realizado e depois aquela chamada, 10 minutos depois de a minha mãe sair de casa liga-me, atendo, percebo pela voz dela que algo se passa, pede-me que tenha calma, questiono várias vezes o que tinha acontecido, silêncio e de repente aquelas palavras que me trespassaram o coração como facas: "A tia Emília faleceu". Não queria acreditar, o chão fugiu-me debaixo dos pés e fiquei de joelhos no chão do quarto, não, a minha garganeira, não! Dias de espera, dias intermináveis, finalmente a notícia de que podia ir para baixo, de que ia para a igreja nessa tarde. E no meio de tudo o que se desmoronava, ele aparece na minha vida. Mal sabia eu que me ia apaixonar.
Agosto, despedida... Sem perceber nem como, nem porquê. Chatices atrás de chatices, andar para trás e para a frente, e eis que surge a oportunidade. Voltar a erguer a cabeça, voltar ao trabalho na área. Tive dúvidas, tive tantas dúvidas. Mas ele estava lá e aquelas palavras fizeram-me tomar a decisão.
Estamos em Outubro, a minha vida deu uma volta de 180º. Mas estou feliz, acima de tudo e apesar das chatices,
estou feliz