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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Morte #2


No outro dia, estava sentada no sofá de casa da minha avó quando ela me disse:

- Olha, o marido da Dona Natália faleceu.

A primeira coisa que lhe disse foi:

- Aquele senhor com nome de rei mago?

A minha avó disse-me que sim e eu olhei para ela, encolhi os ombros e disse:

- Então, é a lei da vida, ele também já não era novo.

Quando reflito sobre o assunto reparo que eu não era assim, acho que me tornei bastante fria em relação à morte. Talvez tenho sido a morte dos meus tios que me tornou assim. Não sou pessoa de dar os pêsames ou os sentimentos a alguém e apenas agradeço por educação. Acho que tudo isso é uma estupidez, não é isso que faz com que uma pessoa se sinta melhor e muito menos trará a outra pessoa de volta.

Por vezes sinto necessidade de “falar” com os meus tios, com o meu avô e com a minha bisavó, sei que nunca obterei uma resposta, mas para mim é reconfortante ir ao cemitério, sentar-me na campa ou chegar-me perto do gavetão e “falar” com eles. Nem que seja apenas um “tenho saudades”.

A morte nunca me chocou, nem nunca me fez confusão, tive o meu primeiro contacto com o suicídio tinha 5 anos, mas não vou falar sobre isso. Aos 11 voltei a ter outro encontro com a morte. Da primeira experiência não me lembro e da segunda, muito pouco. Por volta dos 13 tive a minha segunda experiência com o suicídio e essa sim, foi a primeira morte que me marcou.

Lembro-me como se fosse hoje, a minha mãe chamou-me à sala e disse-me que a vizinha da minha avó tinha morrido. Pode parecer-vos extremamente estupido que a primeira morte a chocar-me tenha sido de alguém exterior à minha família. Mas a verdade é que para mim ela era quase família.

Sempre me pareceu estranho, as pessoas tocarem nos mortos e a mim, até o simples facto de ver uma pessoa morta me fazia confusão. Mas sabem que a curiosidade é uma coisa tramada, e eu tenho o problema de ser bastante curiosa, talvez até um pouco mais que as restantes pessoas. O que aconteceu no funeral do meu tio foi que a curiosidade levou a melhor, nunca vira um morto e talvez por isso, ou por ser o meu tio, eu tenha tido tanta vontade de o ver. Quando a minha prima me perguntou se eu queria vê-lo, acho que abri muito os olhos e devo ter feito uma grande cara de admiração, lembro-me que quando estávamos a ter esta conversa, alguém entrou e levantou o pano, baixei a cabeça para não o ver. Quando o taparam novamente a minha prima disse-me que já estava, olhei para ela e disse-lhe que queria, mas que não tinha coragem. Ela sorriu, e disse-me que se eu queria ver o melhor que fazia era que o fizesse. Durante todo o velório tentei vê-lo, ganhar coragem para o fazer, mas nunca consegui. Mas tal como já disse a curiosidade levou a melhor, no último momento, já no cemitério quando eles abrem o caixão para a família se despedir eu fechei os olhos e depois pense: deixa de ser cobarde, é o teu tio! E então abri os olhos, e vi-o ali deitado como se estivesse a dormir.

O que mais me chocou até hoje, não foi a morte em si, mas a parecença entre os meus tios. Nunca tinha reparado em como eles eram parecidos. Sempre os achei diferentes, hoje dou-me conta de que só eu achava isso. Toda a gente via as parecenças menos eu. Mas sabem que mais fico contente por só eu ver isso, porque isso quer dizer que eu olhava para os meus tios de maneira diferente. Eu posso dizer que os meus tios eram só meus ou pelo menos a forma como eu os via era só minha. :)

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