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terça-feira, 23 de outubro de 2018

#70


2018, o ano que me fez ter vontade de voltar a escrever. O ano do está tudo bem e a seguir está tudo uma merda, o ano das decisões difíceis, das perdas complicadas. Este tem sido o ano em que tantas vezes ri como chorei até não ter mais forças, o ano em que perdi tantas pessoas quantas entraram na minha vida. Dois meses antes do final do ano talvez tenha chegado a altura de fazer uma retrospectiva.
Estive prestes a desistir de tudo no início do ano, a certa altura sinto que me conformei, aceitei a ideia de que nunca ia concretizar o sonho de trabalhar na área. A relação em que estava era complicada, discussões atrás de discussões, gritos, lágrimas, falta de apoio, falta de maturidade, noites sem dormir. A situação complicou-se de tal forma que voltei a ter ataques de pânico, era urgente tomar uma decisão.  
Tomei a primeira grande decisão em março, decidi que ia desistir da relação e ia apostar em mim, o plano começou a formar-se na minha cabeça quando a decisão de acabar foi tomada. O mestrado ia ser uma realidade, um ano para preparar tudo, arranjar dinheiro e preparar a candidatura.
Enquanto na minha cabeça o meu plano para os próximos anos estava claro, tudo o resto à minha volta começava, aos poucos, a desmoronar-se. Junho, o mês que me trouxe um misto de sentimentos, recebemos a notícia de que nos devíamos preparar para a morte da minha prima no dia 4 e nesse mesmo dia tinha recebido uma chamada que marcava a entrevista para quarta-feira, no meio do túnel que se desmoronava à minha volta, havia uma luz, uma réstia de felicidade. Mentalizei-me e enfiei na cabeça que não me queria despedir dela numa cama de hospital, mais uma noite em branco, conversas sozinha no quarto.
No dia seguinte enquanto ia para o trabalho decidi que precisava de me despedir dela, mas no momento em que deveria ter virado em direção ao hospital, continuei em direção ao trabalho. Estava a começar a trabalhar quando o telefone tocou, o nome da minha mãe no visor disse-me que tinha acontecido ainda antes de atender a chamada. Tive quem me agarrasse no momento em que tudo caiu, em que eu me senti afundar num buraco sem fundo. Mas não podia, eu não podia ir abaixo, era preciso segurar os outros, desmarcar a entrevista, era preciso agarrar o avô, eu não tinha tempo para ir abaixo.
Velório, noite à porta da igreja, mais uma. Funeral, dor, lágrimas. Lembro-me perfeitamente do que pensei no momento em que vi o caixão passar as cortinas, acabou, agora acabou, ficas junto de quem também te quer bem, sei que a avó te veio buscar, não precisas de ter medo, não sofres mais.  Quando finalmente percebi que também eu já podia descansar, deitei-me no sofá e adormeci. Acordei com o toque do telefone, era novamente da entrevista, atendi, estavam dispostos a dar uma oportunidade mesmo eu tendo desmarcado a entrevista, a pequena luz que havia ao fundo do túnel acendeu-se com uma intensidade enorme.
Terça-feira saí de casa de manhã, com uma força de quem não passou por nada de mal, com a vontade de conquistar o mundo. Passada a entrevista ouvi aquelas palavras como se estivesse numa bolha de sabão: se estiver interessada o lugar é seu. Tive vontade de me levantar da cadeira e abraçar a rapariga, chorei quando cheguei ao carro ao ouvir a voz de felicidade da minha avó quando lhe contei, estava feito, estávamos a concretizar o nosso sonho e sabia tão bem.
Julho, estava tudo a correr bem, o sonho a ser realizado e depois aquela chamada, 10 minutos depois de a minha mãe sair de casa liga-me, atendo, percebo pela voz dela que algo se passa, pede-me que tenha calma, questiono várias vezes o que tinha acontecido, silêncio e de repente aquelas palavras que me trespassaram o coração como facas: "A tia Emília faleceu". Não queria acreditar, o chão fugiu-me debaixo dos pés e fiquei de joelhos no chão do quarto, não, a minha garganeira, não! Dias de espera, dias intermináveis, finalmente a notícia de que podia ir para baixo, de que ia para a igreja nessa tarde. E no meio de tudo o que se desmoronava, ele aparece na minha vida. Mal sabia eu que me ia apaixonar.
Agosto, despedida... Sem perceber nem como, nem porquê. Chatices atrás de chatices, andar para trás e para a frente, e eis que surge a oportunidade. Voltar a erguer a cabeça, voltar ao trabalho na área. Tive dúvidas, tive tantas dúvidas. Mas ele estava lá e aquelas palavras fizeram-me tomar a decisão.
Estamos em Outubro, a minha vida deu uma volta de 180º. Mas estou feliz, acima de tudo e apesar das chatices, estou feliz 

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